A RELAÇÃO DA DOSAGEM DE LEUCÓCITOS E A REAÇÃO INFLAMATÓRIA DO ORGANISMO
A RELAÇÃO DA DOSAGEM DE LEUCÓCITOS E A REAÇÃO INFLAMATÓRIA DO ORGANISMO
Os leucócitos, também conhecidos como glóbulos brancos, são células do sistema imunológico que desempenham um papel importante na defesa do organismo contra infecções e outras doenças. A dosagem de leucócitos é frequentemente realizada como parte dos exames de rotina para avaliar a saúde geral do paciente.
Essas células são classificadas em neutrófilos (40%-75%), linfócitos (20%50%), monócitos (2%-10%), eosinófilos (1%-6%) e basófilos (<1%). Sendo os neutrófilos os mais importantes na evolução da inflamação e são predominantes nas primeiras 6 a 24 horas nas inflamações agudas, duram de 7-10 horas na circulação e sofrem apoptose em 24 horas.
A contagem de leucócitos pode ser útil para diagnosticar infecções bacterianas ou virais, bem como outras doenças que afetam o sistema imunológico, como doenças autoimunes e alergias. Além disso, pode ajudar a monitorar a eficácia do tratamento e a progressão de doenças ao longo do tempo.
Essa contagem pode ser usada também para avaliar a reação inflamatória do organismo, uma vez que o aumento do número de leucócitos no sangue é uma resposta comum do sistema imunológico a infecções, inflamações e outras condições que podem desencadear uma resposta imune. No entanto, a relação entre a dosagem de leucócitos e a reação inflamatória pode variar dependendo do tipo de inflamação e da gravidade da condição subjacente.
Por exemplo, em condições agudas, como infecções bacterianas ou virais, é comum observar um aumento significativo na contagem de leucócitos, especificamente dos neutrófilos, que são responsáveis pela resposta imune inicial do organismo, como já citado. Por outro lado, em condições crônicas, como doenças autoimunes, a dosagem de leucócitos pode não ser tão útil para avaliar a inflamação, uma vez que a contagem de leucócitos pode ser normal ou mesmo reduzida em alguns casos.
Um exemplo da importância da dosagem e estudo do papel dos leucócitos é na isquemia-reperfusão (I/R), condição que pode causar danos teciduais significativos devido à ativação da resposta inflamatória e dos leucócitos, como os neutrófilos e os macrófagos. Os neutrófilos são atraídos para o local da lesão e liberam enzimas que podem causar danos teciduais adicionais, já os macrófagos são ativados para limpar as células mortas e os detritos celulares. No entanto, a ativação excessiva dos macrófagos pode levar à inflamação crônica e fibrose. Deste modo, o entendimento do papel dessas células na resposta inflamatória na I/R é crucial para o desenvolvimento de terapias eficazes para reduzir os danos teciduais.
Outro exemplo é na infecção pelo SARS-COV2. Durante o curso da COVID-19 os neutrófilos são ativados de forma persistente e isso desencadeia uma superprodução de NETs que se acumulam nos tecidos e podem gerar oclusão vascular e microtrombose, não apenas no tecido pulmonar mas também no fígado e rins. A neutrofilia foi correlacionada com casos da doença grave, do qual o paciente necessitava de internação em UTI. Além da neutrofilia leucocitose, linfopenia e eosinopenia, bem como, as alterações morfológicas dos linfócitos e neutrófilos, foram os achados mais consistentes no hemograma dos pacientes com a doença. Deste modo, a identificação dessas alterações pode fornecer um significado auxiliar ao diagnóstico e direcionamento da evolução da infecção.
Fatores como idade, sexo, dieta e exercício físico, podem afetar a dosagem de leucócitos e a reação inflamatória do organismo. Por isso, é importante levar em consideração o contexto clínico e a história do paciente ao interpretar os resultados dos exames laboratoriais.
Referências:
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