O PERIGO NO USO INDISCRIMINADO DE ANTIBIÓTICOS

O PERIGO NO USO INDISCRIMINADO DE ANTIBIÓTICOS

Os antimicrobianos são medicamentos utilizados no tratamento de infecções, principalmente as de origem bacteriana, e são essenciais para a preservação da saúde humana e animal. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as infecções causam cerca de 25% das mortes em todo o mundo e 45% nos países menos desenvolvidos e, nas últimas décadas, a utilização de antibióticos tornou-se prática rotineira diante de qualquer sinal de infecção.

O aumento do uso de antibióticos tem acarretado um expressivo aumento também nas resistências bacterianas, um problema que é atualmente extremamente relevante à nível global para a saúde pública, uma vez que essa resistência torna os medicamentos ineficazes e faz com que as infecções persistam no corpo, aumentando o risco de propagação a outras pessoas e de complicações.

COMO OCORRE ESSA RESISTÊNCIA

A resistência a medicamentos ocorre quando bactérias sofrem alterações quando expostos a antibióticos e isso ocorre naturalmente, por meio de alterações genéticas. Porém, o uso indevido e exacerbado desses medicamentos vem acelerando esse processo. Sendo as bactérias resistentes à maioria dos antibióticos conhecidas como ultras resistentes ou “superbactérias”.

Os mecanismos de resistência podem se apresentar de maneira intrínseca, quando as bactérias já possuem, em sua constituição, informações para apresentar o mecanismo responsável pela ineficácia do antimicrobiano, como também de maneira adquirida, onde o microrganismo recebe de outra célula, da mesma espécie ou não, informações que podem causar esta resistência. 

As bactérias Gram‐positivas mais resistentes aos antibióticos são da espécie Staphylococcus aureus e do gênero Enterococcus, ao passo que as bactérias Gram‐negativas mais resistentes aos antibióticos são das espécies Acinetobacter baumanniiPseudomonas aeruginosa e da família Enterobacteriaceae.

AS CONSEQUÊNCIAS DESSE PROBLEMA

Como já exposto anteriormente, as infecções se configuram como um problema médico de grande ocorrência e, sem antibióticos eficazes para prevenir e tratar estas doenças, procedimentos médicos como transplante de órgãos, quimioterapia, controle de diabetes e cirurgias de grande porte, por exemplo, se tornam um risco muito alto. Sem contar que doenças comuns e, hoje, facilmente tratadas, se tornam cada vez mais difíceis de serem curadas e, consequentemente, tendo um risco muito maior para a população.

A resistência antimicrobiana aumenta o custo da atenção médica com estadias mais longas em hospitais e necessidade de cuidados mais intensivos. Os patógenos multirresistentes são responsáveis ​​pelo aumento da morbimortalidade dos pacientes internados em hospitais e ocasionam um grande aumento nos gastos com saúde devido à prescrição de medicamentos mais caros e ao longo período de internação. 

NÚMEROS ALARMANTES

Segundo a OMS, a resistência a antibióticos pode levar à morte de 10 milhões de pessoas por ano a partir de 2050, o que representa uma morte a cada 3 segundos. De acordo com um estudo publicado no The Lancet, só no ano de 2019 mais de 1,2 milhão de pessoas morreram em todo o mundo por infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos, sendo a maioria destas causadas por doenças comuns e tratáveis, como doenças respiratórias.

A cada ano, 480 mil pessoas desenvolvem tuberculose multidroga resistente e a resistência aos medicamentos também está começando a complicar a luta contra o HIV e a malária. E, segundo a OMS, o Brasil é o país com o maior consumo de antibióticos na América e, de acordo com dados da ANVISA, cerca de 25% das infecções registradas são causadas por esses microrganismos resistentes. Neste cenário, doenças como pneumonia, pielonefrite, tuberculose e gonorreia, estão se tornando cada vez mais difíceis e, às vezes, impossíveis de tratar.

A única maneira de preservar a eficácia desses valiosos medicamentos e driblar as superbactérias é garantindo o uso responsável e consciente e isso requer a atuação de diversos atores, que vão desde a população em geral até profissionais da saúde e indústria farmacêutica.

Referências Bibliográficas:

WANNMACHER, Lenita. Uso indiscriminado de antibióticos e resistência microbiana: uma guerra perdida. Uso racional de medicamentos: temas selecionados, v. 1, n. 4, p. 1-6, 2004.

LOUREIRO, Rui João et al. O uso de antibióticos e as resistências bacterianas: breves notas sobre a sua evolução. Revista Portuguesa de saúde pública, v. 34, n. 1, p. 77-84, 2016.

DE OLIVEIRA, Karla Renata; MUNARETTO, Paula. Uso racional de antibióticos: responsabilidade de prescritores, usuários e dispensadores. Revista Contexto & Saúde, v. 10, n. 18, p. 43-51, 2010.

SEGUNDO ESTUDO, USO EXCESSIVO DE ANTIBIÓTICOS DIFICULTA TRATAMENTO DE INFECÇÕES MAIS COMUNS. Lab Network, 2022. Disponível em: < https://www.labnetwork.com.br/noticias/uso-excessivo-de-antibioticos-dificulta-tratamento-de-infeccoes-mais-comuns-mostra-estudo/>.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE (OPAS). Resistência antimicrobiana. OPAS/OMS. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/topicos/resistencia-antimicrobiana>.

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Resistência aos antimicrobianos. 2021. Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/resistencia-aos-antimicrobianos/antimicrobianos>.

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